Hoje, no Clássicos, falamos sobre Poema Sujo, o mais conhecido poema de Ferreira Gullar, também considerado um dos mais importantes do último século.
Poema
Sujo é um dos mais importantes poemas do século XX, escrito pelo Maranhense
Ferreira Gullar, pseudônimo de José de Ribamar Ferreira.
Foi
escrito em 1975, enquanto Gullar estava exilado em Buenos Aires, depois de ter
sido exilado, também, em Moscou, Santiago do Chile e Lima.
Nasceu
da necessidade de Gullar registrar o seu último poema. À época, momento tenso
no Brasil devido ao golpe militar uma década antes, em 1964, militares brasileiros
tinham a autorização de entrar em Buenos Aires para capturar os exilados.
Diariamente,
cadáveres eram achados, pessoas desapareciam. A sensação de segurança, que antes
já era quase impensável, naquele momento fez-se nula.
Gullar,
antes disso, já havia tentado escrever sobre o tempo que passou em São Luís do Maranhão
em prosa poética, em crônicas e contos, mas nunca obtivera sucesso. Nunca havia
tentado a poesia, pois não achava que fosse o estilo correto, com espaço
necessário, para tal relato.
No
entanto, diante de tal repressão, Ferreira, em maio de 1975, põe-se a escrever
o Poema Sujo.
Nele
Gullar fala de saudade, de vontade e de detalhes. Poema Sujo é uma descrição
exata da cidade maranhense pelos olhos do poeta. Sem mais nem menos. Não há
eufemismos descabidos, nada é diminuto. Tudo o que se lê é verdadeiro, pulsa e
faz crer que aquela é a única visão que se pode ter da cidade.
São
poemas dentro de poemas. Trechos que, aparentemente não se relacionam, mas que se
mostram exatos ao término de sua leitura. Vemos a cidade, as pessoas, as noites.
Detalhes tão ricos, tão vividos, que há uma viagem, uma necessidade de estar, de partilhar a dor e a saudade.
Segundo
o próprio autor, o poema nasce da necessidade de vomitar tudo o que o comovia.
Exilado e sem ter muitas ocupações, qualquer coisa que tocasse, e que o
lembrasse de sua terra, tornava-se poesia, tal como a um Midas.
O
poema foi escrito entre maio e agosto de 1975, sendo publicado no Brasil, com a
ajuda de uma intensa campanha de Vinicius de Moraes, em 1976. Foi por conta
dele que Ferreira Gullar pode voltar ao
Brasil, depois de grande comoção entre artistas, jornalistas e o regime
militar vigente.
Poema
Sujo é um poema necessário, há que se ler para entender a saudade, o detalhe, a
vontade de regresso.
SOBRE O AUTOR
Ferreira
Gullar nasceu em 10 de setembro de 1930, na cidade de São Luís do Maranhão. Mudou-se
para o Rio de Janeiro aos 21 anos, depois de ter vencido concurso de poesia
promovido pelo Jornal das Letras, ainda em São Luís.
Já
no Rio, começou a colaborar com revistas e jornais, inclusive como crítico de
arte. Com A Luta corporal, livro de 1954, abre caminho para a poesia concreta,
grupo do qual participou e do qual rompeu para a criação do neoconcretismo, em
1958. Organizou, liderou e redigiu o manifesto do grupo, o famoso ensaio:
Teoria do não objeto.
Vencedor
de grandes prêmios, destacam-se o Prêmio Jabuti; prêmio pelo conjunto da obra
da Fundação Conrad Wessel de Ciência e Cultura; Machado de Assis, da ABL; e o
Prêmio Camões, considerado a maior premiação para escritores de língua
portuguesa.
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